Ligares, no concelho de Freixo de Espada à Cinta é a primeira povoação de Trás-os-Montes, onde há registo de conversões à fé protestante.
Esta igreja é fruto do encontro de 2 conversões e do mesmo fervor evangelístico: Por um lado, João Manuel Gonçalves, um padre católico romano, convertido ao protestantismo e, de Joaquina da Graça de Castro Galas que em 1915, a 12 de dezembro, é batizada na Igreja Evangélica Lisbonense e aceite como membro comungante. Estes dois crentes fervorosos que tinham uma boa situação económica e propriedades em Trás-os-Montes são os responsáveis pelo desenvolvimento do trabalho evangelístico nesta aldeia.
João Manuel Gonçalves começou a dirigir as reuniões e, apesar da perseguição surge uma nova comunidade de conversos a esta “nova lei”. O ex-padre João Gonçalves liderou esta comunidade sempre que não havia evangelistas ou pastores. Em janeiro de 1929 já havia em Ligares 20 famílias evangélicas.
Em 1930 João Manuel Gonçalves escreveu ao pastor José Augusto dos Santos e Silva, pedindo para que a Missão Evangelizadora do Brasil e Portugal pudesse apoiar aquele trabalho, pois ele iria viver para o Porto para que os filhos pudessem estudar. Ofereceu a sua casa para que o obreiro que viesse liderar a missão pudesse viver. Em 1930 esta missão já contava com 27 crentes batizados.
No dia 5 de abril de 1931, são batizados os seguintes membros: Francisco António Pereira, António Maria Luís, Aurélio Maria Garcia, Júlia de Castro Galas, Laura Elvira Teixeira Correia, Camila da Conceição, Maria do Rosário Rodrigues, Cândida Junqueiro Galas, Maria Emília Gamboa, Clotilde Pereira Garcia, Francisca Teresa Silvéria, Maria Joaquina Luís Alves, Maria Angelina Rodrigues e Maria do Nascimento.
Em 1936 adquiriu o estatuto de igreja. O primeiro pastor desta igreja foi o presbítero da Igreja Evangélica Lisbonense, Teodoro Augusto da Silva, que esteve ali desde 1930 a 1938. A Igreja Protestante de Ligares sofreu ao longo dos anos perseguições que perturbavam os cultos e reuniões, tornando a vida dos crentes muito difícil. Em especial um missionário católico, José Fraga costumava incendiar a população contra esta “pregação herética” e, pelo menos uma vez, a casa de oração foi cercada com bastante perigo. Em outubro de 1929, quando faleceu um dos crentes da Igreja, José Joaquim Garcia, a população que tinha de antemão decidido que os protestantes não poderiam ser enterrados no cemitério, mas sim lançados num local onde eram atirados os animais mortos (Costinha), alvoroçou-se. Valeu aos crentes a intervenção da Guarda Nacional Republicana para apaziguar os distúrbios e, o enterro pôde acontecer no cemitério.
Em 1931, o atual terreno onde está construído o edifício do templo foi doado pelos irmãos Emílio Hilário de Castro Teixeira, Veneranda Ana de Castro Teixeira e Veneranda Emília de Castro Martins, Rapidamente deu-se início às obras com apoio dos crentes locais, de outras igrejas nacionais e também com doações do estrangeiro. As obras são concluídas e o templo é inaugurado a 12 de novembro de 1933, com culto solene dirigido pelo pastor Teodoro Augusto da Silva que tinha ido para Ligares no ano anterior. Nessa semana são organizadas conferências e reuniões de evangelização. Esta igreja chegou a ter como missões: Vale de Barreiras, 1936/1947 (Barca de Alva) e Carviçais 1936/1937 (Moncorvo) e, enviou um missionário, Fernando Castro Galas (genro de João Manuel Gonçalves) para a missão de Uige, no norte de Angola. Uma das pioneiras, a irmã Joaquina de Castro Galas do Vale, fez um importante legado à Igreja.
Esta igreja foi acompanhada pastoralmente por vários pastores e leigos: João Manuel Gonçalves, o pastor Teodoro Augusto da Silva, por duas vezes, o pastor Júlio Roberto dos Santos, pastor Roberto dos Santos, Pastor Francisco da Cruz pastor Manuel Sousa Campos, o evangelista Sr. António Júlio da Cunha e o Pastor Rui A. Rodrigues e, até ao seu encerramento, dentro do espírito da Caminhada com a Igreja Metodista o pastor Eduardo Meixieira.
A igreja esteva encerrada desde 7 de outubro de 2017 até 2022, ano em que as instalações foram cedidas à Assembleia de Deus de Portugal.
Fontes:
CALADO, Paulo Santos e Silva, A Obra Evangélica Congregacional em Portugal
CARDOSO, Manuel Pedro Cardoso, 1901-2001: 1 século na Figueira da Foz
VALENTE, David, Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal, Contributo para a história da sua fundação, Download
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